Se hoje me deixasses,
Não teria outro remédio.
Deitaria as tuas cartas ao mar
e as tuas palavras ao vento.
Tirar-te-ia a custo e a ferros do meu coração.
E fica com a certeza de que serias expulso.
Lavava o corpo do teu cheiro
e perfumava-o com limão.
Desinfectava a memória com imagens e palavras
de outros para não restar mais nada de ti em mim.
Depois, entregava-me a uma qualquer sorte não procurada, a umas palavras doces não ambicionadas, um corpo estranho por não ser o teu.
E depois chorava.
Porque embora não estivesses mais em mim, um passado é um passado.
Podes ignorá-lo, esquecê-lo nunca.
Por isso, se me deixares hoje:
Deixo de ser quem sou.
Deixo de saber em quem me tornarei.
Deixo de saber o meu caminho e quem nele
posso encontrar. Deixo-me à sorte.
Serei folha ao vento, à procura da sua estação.
Raquel Branco
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