Com os pés na relva molhada, ela deixa-se ficar parada no topo daquela colina.
Observa o sol matinal, que lentamente se eleva acima do horizonte,
e sente a terra enlameada envolver-lhe os dedos numa carícia doce e acalentadora.
O sol parece sorrir-lhe, não lhe fere os olhos
ainda que o observe directamente.
O vento, mais matreiro e frio sopra-lhe no rosto
e despenteia-lhe o cabelo acetinado...
ali permanece, firme contra o vento que sopra mais fortemente.
Com um passo à frente, chega-se mais à beira
são as rochas que sente agora, por baixo dos pés descalços
e a luz que vê é um lago incendiado pelo reflexo do sol que se levanta,
que ondula e marulha, embalado pelo vento agora ainda mais forte.
Ela sorri e saboreia a fúria que provém dos elementos
O calor do fogo, a pujança do ar, a força da água, a dureza da terra...
sabe que a eles pertence, que deles faz parte
e que com eles, molda o seu carácter...
Ela é afinal, uma estátua, dura como granito,
cuja têmpera é moldável como as ondas
conforme o vento lhes bate,
e cujo coração é tão quente como o sol de verão...
Mas hoje não há tempestade.
Há uma suavidade na curva dos seus lábios enquanto sorri para o sol nascente:
- "Olá amigo, tive saudades tuas esta noite..."
e a estátua sorri... um sorriso que não será nunca por ninguém escutado.
Mais doce do que qualquer canção de pomba ou rouxinol.
Brilham os olhos, que lembram o cintilar de um cristal
e que, ao reflectir-se na água do lago, se mistura e embate com milhares de outros cristais
outras gotas, sabe-se lá de que prantos...
E permanece assim, no topo da colina, simplesmente pensando.
Deleitando-se com o novo dia,
até que, empurrada pelo vento, se move
e, voltando as costas, descendo a colina,
o seu coração canta por mais um dia ensolarado...
SLL
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