Puxei de um envelope que tinha sobre a mesinha de cabeceira e coloquei-o à sua frente, sobre o lençol. Perguntou o que era.
Abre, respondi a sorrir. Trémulo, abriu o envelope com a excitação de quem tira os laços dourados das prendas de Natal. Sem fala, retirou do seu interior um naipe de fotografias a preto e branco.
E ali reviu no papel impresso, o meu corpo nu, na saudosa beleza dos meus vinte anos, rendido que estivera em tempos ao seu olhar por detrás da máquina fotográfica. Os seus olhos bebiam a textura mate do papel e as mãos tremiam cada vez mais. Pela sua cabeça deviam avivar-se em cascata as memórias de tardes loucas em que me fotografou no meu quarto em poses sensuais. Os rolos ficaram guardados junto dos meus diários. Escondidos em sucessivas gavetas. Só agora me atrevera revela-los. O jogo de sombras resgatava agora da memória as linhas de um corpo firme, jovem, excitante… Afonso revia uma e outra vez cada uma das fotos. Eras linda, ousou dizer. És linda, corrigiu com um sorriso. Linda e louca, sublinhou. Pegou-me nos cabelos, puxou-me até ao seu rosto e beijou-me, de uma forma quente, quente, como eu sempre recordara o seu arrebatamento de outrora.
O seu corpo aqueceu o meu corpo e voltámos a fazer aquele amor gostoso, com o cheiro húmido dos tempos em que lhe insuflava vida com as minhas loucuras de adolescente e ele me ensinava o fino recorte de um amor maduro, em que o tempo escorria suave e se conjugavam em paz os cinco sentidos. O corpo do Afonso já não tinha a mesma firmeza, mas o amor não tem corpo e o fulgor não envelhece no tempo. A boa fruta torna-se madura e passa a fazer delícias em compota.
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