terça-feira, 3 de junho de 2014

Fim de Ano



Fecho os olhos e parto para os braços dos sonhos
hoje, quero apenas desistir da minha alma.
Na escuridão entre-mundos, no passar dos dias
quando vejo a minha alma ao espelho,
pergunto-me quanto mudei por dentro...
aprendi que a força de que preciso está no alto duma montanha
por vezes inalcançável
e como a vida pode minar a vontade quando sentimos o coração pesado.
Gostaria de criar um sonho e dele saborear cada pedaço
lenta e gulosamente...
Eu sei o que me espera nas memórias que não controlo,
mas que irei eu encontrar nos domínios dos poderes superiores?
Quando uma alma é velha como a minha, o custo pode ser pesado e eterno
e um andarilho do Paraíso pode procurar a paz em vão.
Nos lugares onde os corações são cultivados há frio e corre a dor
e até Ícaro desejou asas para voar do alto de escarpas para a noite de ébano.
As Idades dos Homens passaram fugazmente:
alegria, tristeza, paz e guerra amor e ódios tão grandes...
Toca o sino da igreja para quebrar este silêncio
mas vem tarde a fé que traz, e carece de verdadeira graça divina
eu, apenas ouço o seu som, oco, a soar através das sombras.
Não há muito tempo atrás poderíamos encontrar a verdadeira alegria no meio das florestas
mas elas agora estão cortadas por uma ganância que mata tudo quanto vê.
Onde está o coração que bate forte no amor seguro
ou o poder que leva o rio para uma praia distante?
Ah, esta Idade do Ouro, prisioneira duma campa suja
onde os Homens beneficiam com o engano e a mentira
onde a honestidade e o amor são apenas palavras
onde acreditamos que estamos no fim dos dias
onde temos perspectivas tão tristes quanto aço enferrujado
quando é o metal dourado quem governa...
Somos passageiros no banco de trás de uma limousine onde ninguém está ao volante
dirigindo-nos para um jantar, para o qual precisamos de reconsiderar a lista de convidados.
É preciso cessar as lágrimas para o próximo acto.
Como peões sabemos que o jogo continua, e as areias da ampulheta passam rápida e inexoravelmente.
Eu sou apenas mais uma alma caída em busca de sonhos para seguir,
e ninguém me vê chorar na noite para salvar alguma divindade distante.
Se pudéssemos ao menos acabar com esta pilha de lixo económico-social, que vai fazer com que o mundo acabe realmente,
mas não com um estrondo. Antes com os nossos gritos sonoros.
Mas se a morte pode ser percebida à distância
recusemo-la como mais uma forma de rebelião e independência
e assim terminará o pesadelo de Brahma, esse passeio arborizado ao longo do caminho desta difícil vida
que nos leva para algum Paraíso distante, de volta a casa...

SLL

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