Esta noite, em vez de dormir, pensei.
E, como sempre pensei muito, e em muitas coisas.
Uma delas foi na questão de determinadas pessoas terem coragem de olhar para a vida e acções dos outros e julgá-los sem se darem ao trabalho sequer de compreender os motivos.... ou até mesmo se esses julgamentos são ou não justos.
Esta reflexão vem na sequência de algo que ouvi ontem, me preocupou e em que fiquei a matutar.
É que as pessoas por vezes nem se dão conta, pensam que estão "apenas a conversar" ou como se diz popularmente, a "encher chouriços" com comentários mais ou menos inocentes sobre outros por nada terem de bom para falar sobre si mesmas.
Mas outras são maldosas, e muitas vezes os interlocutores nem se apercebem do veneno por trás da aparente doçura e "preocupação".
Já encontrei dos dois tipos destas pessoas ao longo da vida, aprendi a reconhecê-las (e até a compreender porque é que agem assim, mas não significa que pactue com tal atitude, pelo contrário! Não compactuo nem admito.).
Posso afirmar que com esse tipo de atitude conseguem destruir-se sonhos, anseios, esperanças, auto-estima...vidas...
Quantos de nós todos os dias nos sentimos injustiçados por uma situação ou por outra, e mais tantas outras que nem sequer concebemos porque nem nos passam pela cabeça? E que tipo de sentimentos nos trazem essas situações?
Desde a frustração á tristeza, passando pela raiva, a ira, a melancolia, a depressão... quantas vezes um desespero profundo e que rói a alma.... mas o pior de todos é a dúvida. Quando começamos a duvidar de nós mesmos.
Mesmo quando nos conhecemos bem e racionalmente não é justificável. É a questão do "e se"... eu não sei brincar ao "talvez" nem ao "e se".
Vamos então pegar em alguns dos pontos aos quais dediquei a minha noite, por assim dizer, e começa com uma proposta. Proponho algo que eu mesma faço sempre, e repeti mais uma vez hoje, precisamente pelos motivos que enumerei acima. É o seguinte: Olhem para vocês mesmos e para as vossas vidas. Olhem-se no espelho do vosso interior, nas feridas, nas alegrias, nas dores, virtudes, defeitos... façam-no com um verdadeiro espírito auto-crítico.
Olhem para as vossas máscaras, se as usam ou não usam, olhem para quem amam, para quem defenderiam com unhas e dentes, contra tudo e contra todos. Dariam a vida por alguém? em que circunstâncias? conseguem aceitar as outras pessoas como elas são, amá-las pelo que elas são, ou tentam modificar ou influenciar aqueles com quem lidam, de uma forma ou de outra (por vezes inconscientemente) a fim de que acabem por se moldar aos vossos próprios anseios?
Quantas vezes procuram manipular outros conscientemente, baseando-se em desculpas para justificar tais atitudes?
E olhem também para quem detestam (aqueles que conseguem detestar), e a quem desejam umas quantas coisas negativas só por vingança... ou talvez não (assim pensam, ou dizem pensar alguns).
Querem realmente que a pessoa sofra, ou são apenas momentos de "traques" emocionais, que passam daí a um pedaço e nem valeria a pena estar a gastar tempo com isso?
E o que é que lucram magoando alguém, insultando ou denegrindo?
E se a pessoa ou pessoas em causa são realmente negativas e prejudiciais, não será melhor afastar simplesmente? ou contar até 100 e pronto, tudo bem, já passou...
Até que ponto conhecem bem aqueles de quem falam? ou julgam conhecer apenas? o que é que consideram necessário para dizer com convicção que conhecem alguém na real acepção da palavra? Lembrem-se de que muitas vezes vivemos anos e anos com outras pessoas e no fim de contas elas acabam por se revelar completamente diferentes do que acreditámos...
Entra aqui aquilo que muitas vezes digo: as pessoas não mudam. Revelam-se. Tudo está lá.... mas umas escondem melhor que outras, e outras são óptimas nas manobras de diversão.
Mas façam por favor esta análise antes de assumirem o direito de julgar qualquer outra pessoa.
Quando nada temos de bom para dizer a respeito de alguém ou algo, lembremo-nos dos 3 crivos de Sócrates: Se a sua história não é verdadeira, nem boa, nem útil, não perca seu tempo a contá-la, pois nenhum proveito dela pode advir.
Somos responsáveis não apenas por nossos actos, mas também pelas nossas palavras e até pelos nossos pensamentos... sim até estes devemos policiar para não cometermos injustiças.
Parece evidente, mas o facto é que nem sempre damos a devida atenção ao que parece evidente (frase redundante mas verdadeira).
Envolver-se em conversinhas, repassar informações sem as conferir e dar corda a boatos é uma tentação à qual todos estamos expostos, todos os dias. Só que se olharmos bem, não há nada de inocente nisso. É assim que comprometemos a reputação dos outros e a médio ou longo prazo, também a nossa.
A minha avó costumava dizer-me que "a verdade é como o azeite: vem sempre ao de cima" e vem! Dá que pensar não dá?
Nunca compreenderei porque é que o ser humano acha interessante reunir-se com outros para soltar conversa sobre aqueles que não conhecem intimamente. Muitas vezes nem pessoalmente, e isto acontece muito aqui na internet e redes sociais, chat e afins... nem se dão ao trabalho de conhecer e pimba... cá vai disto: "fulano é assim ou assado"... sabes lá tu de fulano...
Quantas vezes aquilo que parece, não é, e aquilo que é, não parece... infelizmente quando nos damos conta do erro... já está. Rien à faire.
Já pensaram porque é que determinadas pessoas agem/reagem de determinadas maneiras, ou limitam-se a olhá-las com condescendência e avaliá-las segundo os vossos próprios parâmetros? E será que os vossos parâmetros são justos?
Gostaríamos nós que alguém nos olhasse, julgasse e condenasse segundo os padrões com que nós mesmos julgamos os outros? Mais uma para reflectir.
Vamos pensar por exemplo na comunicação social. Todos os dias lemos ou vemos na tv ou nos jornais (que consideramos confiáveis E isentos porque o deveriam ser), determinado tipo de notícia mais ou menos tendenciosa (recordemos as vezes em que dizem "alegadamente", "presumivelmente", "em princípio"...) e começa imediatamente a repetição de uns meios para outros sem personalidade, repetição infeliz, com o sarcasmo de costume, e muitas vezes só meio-verdade... quando tal... e quem de nós se dá ao trabalho de analisar e colher dados antes de servir de papagaio?
E o poder em relação a julgar não está com nenhum de nós!
A conclusão a que chego é que estar neste mundo de maneira diferente e aparentemente frágil/sensível, incomoda pessoas. Incomoda muito, e agrava essa situação de mexerico e boato.
A sinceridade e frontalidade assusta. São já poucos infelizmente os que assim agem, de peito aberto, na cara... e menos ainda aqueles que os compreendem. "Coitado, não bate bem da bola... não tem a noção da realidade."
E quantas, quantas vezes não só tem a noção perfeita da realidade, como também tem consciência plena de que determinada atitude gera determinada reacção, e assume-a na mesma precisamente porque é necessária para ser compreendida? (água mole...).
Engraçado é que essas pessoas trabalham contra si mesmas em prol dos outros. Mesmo daqueles que as censuram e julgam.
Não disparem canhões contra corações já doloridos. Não se arroguem o direito de, sem ter conhecimento das coisas, sejam elas factos, pessoas, circunstâncias ou acções, fundar o "manual de conduta moral" que "deverá" reger todos aqueles que os rodeiam.... e coitados daqueles que resolvem ignorar o manual baseado na covardia social vigente.
Não gastem o vosso tempo com futilidades cruéis, fazendo girar, com perfeição, a roda da maldade humana que cospe e desmonta a beleza frágil da diferença.
Ninguém tem o real conhecimento dos motivos pessoais de cada ser humano para fazer seja o que for, a menos que lhe pergunte. E mesmo assim a pessoa pode reservar-se o direito de não responder se achar que se prejudicará ou que prejudicará outro alguém.
Olhem para a vossa vida, tentem fazer dela uma obra de arte, preocupem-se com ela e gastem o vosso tempo com algo digno ao invés de reunir com os amigos para falar mal da vida de quem está dentro de uma realidade que não entendem, não compreendem, sobre a qual não têm domínio. Ainda bem que nem todos vêm através de olhos críticos. Existem formas belas de se ver uma mesma situação, postura ou atitude. Há ainda pessoas com almas delicadas e suaves que pensam de outro modo.
A injustiça destrói o espírito: do injustiçado e do "justiceiro" e, apesar da força também ser parte da fragilidade, muito mais do que possamos imaginar, as pessoas demoram para se recompor das consequências de actos negativos... e dependendo da força do frágil, algumas nem sequer o conseguem. Por isso há cada vez mais pessoas com problemas de auto-estima, depressão, angústia, medos, stress... os males da sociedade moderna.
Não pertenço e recuso pertencer a essa infeliz parte da população dos pseudo-juízes, das piadas, das gozações, da estupidez sem tamanho, uso o humor e não a censura. Tentem vocês também. E se, com estas reflexões conseguir fazer alguns de vós pensar, já me sentirei muito feliz.
"Se queres fazer do mundo um lugar melhor, começa por te mudar a ti mesmo"
(Michael Jackson)
SLL
Sem comentários:
Enviar um comentário