Já na minha alma se apagam
As alegrias que eu tive;
Só quem ama tem tristezas,
Mas quem não ama não vive.
Andam pétalas e fôlhas
Bailando no ár sombrío;
E as lágrimas, dos meus olhos,
Vão correndo ao desafio.
Em tudo vejo Saudades!
A terra parece mórta.
- Ó vento que tudo lévas,
Não venhas á minha pórta!
E as minhas rosas vermelhas,
As rosas, no meu jardim,
Parecem, assim cahidas,
Restos de um grande festim!
Meu coração desgraçado,
Bebe ainda mais licôr!
- Que importa morrer amando,
Que importa morrer d'amôr!
E vem ouvir bem-amado
Senhor que eu nunca mais vi:
- Morro mas levo commigo
Alguma cousa de ti.
António Botto, in 'Canções'
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