Encontraram-se anos depois no hallzinho das carruagens do comboio, na última carruagem,
a carruagem vinte e quatro e o certo é que ela ia apanhar o comboio anterior mas quando chegou à estação ele já tinha partido e então quando entrou na carruagem a porta não abriu logo e quando abriu ele estava lá atrás dela, da porta e não a deixou passar, a ela, antes ficou a olhá-la e os olhos dele empurraram-na para o pequeno cubículo do hallzinho da carruagem vinte e quatro e sem lhe dizer sequer boa tarde deu-lhe um beijo.
Um beijo igual àquele que tinham dado uns anos antes quando se despediram e o beijo teve um sabor diferente porque a saudade sabe assim, sabe diferente e abraçaram-se depois e ficaram um bocado naquele abraço enquanto as outras pessoas passavam por eles com malas e crianças pelas mãos e sacos e coisas assim.
E então desfizeram o abraço mas só desfizeram o abraço porque o que ficou interrompido durante anos ficou refeito ali naquele momento e naquele momento tiveram a certeza que não se encontrariam ali daqui a uns anos simplesmente porque a partir dali iriam fazer todas as viagens de comboio juntos.
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